Gravidez com idade materna avançada vem crescendo no Brasil

O anúncio por parte de uma famosa atriz brasileira, de que estava grávida aos 55 anos, trouxe ao foco a discussão sobre mulheres com idade materna avançada. Um estudo que mostra a diversidade de perfis de mulheres grávidas com idade considerada avançada foi realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFES em conjunto com pesquisadores da Fiocruz, e publicado recentemente na Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil.

Participaram dessa pesquisa, 2.510 mulheres selecionadas a partir dos dados de um estudo nacional de base hospitalar denominado “Nascer no Brasil”, que entrevistou  aproximadamente 24 mil mulheres em todo o Brasil.

A partir dos 35 anos já se considera idade avançada para uma gravidez. O estudo descreve e analisa o perfil dessas mulheres brasileiras com idade materna avançada e qual tipo de parto vem sendo realizado.  Os dados coletados apontaram que, atualmente, mulheres de diferentes classes sociais e com diferentes graus de acesso a serviços de saúde no país têm engravidado tardiamente. No mundo todo tem se observado essa tendência em se adiar a gestação, principalmente nos países de alta renda.

No Brasil, o percentual de partos em mulheres com 35 anos ou mais duplicou entre 1994 e 2018, passando de 7,6% para 15,5%. A tendência de adiar a maternidade tem ocorrido em função do aumento da expectativa de vida, da busca da mulher por mais oportunidades educacional e profissional, além da ampla oferta de métodos contraceptivos seguros.

Um ponto de destaque do estudo mostrou que as mães de primeira viagem apresentam maior escolaridade, classe econômica mais elevada e assistência pré-natal mais vantajosa quando comparadas às que as mães com três ou mais partos anteriores. Por outro lado, as mulheres grávidas pela primeira vez são mais submetidas a cesarianas desnecessárias.

Por isso, tanto os profissionais de saúde quanto os serviços de saúde devem estar preparados para essa nova realidade. Gravidez tardia não possui relação direta com necessidade de cesária. De acordo com o estudo, cerca de 65% das mães de primeira viagem com 35 anos ou mais apresentaram alguma intercorrência na gestação que pode justificar cesariana. Dessas, no entanto, 91,2% tiveram cesariana, com ou sem trabalho de parto. Entre as mulheres que não apresentaram problemas na gestação também foi elevada a taxa de cesariana, cerca de 80%.

Sabendo-se que a cesariana é um tipo de intervenção que traz riscos à mulher e a seu bebê, é recomendado que sua execução ocorra apenas por motivos clínicos. Dessa forma, a elevada incidência dessa abordagem nos partos se configura como um problema de saúde pública que estamos enfrentando no Brasil.

O sistema de saúde brasileiro precisa se organizar de modo a atender esse grupo de mulheres que vem se tornando cada vez mais expressivo, oferecendo às mães de primeira viagem a possibilidade de indução do parto e orientando sobre o maior risco de intervenções desnecessárias. É preciso também atender a demanda de recursos por diferentes tipos de famílias, a fim de que as desigualdades do acesso à saúde por essas mulheres sejam minimizadas durante o atendimento pré-natal e parto.

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